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Hoje faz uma semana que me mudei do centro pra Sandycove, County Dublin. Aqui é como se fosse um anexo de Dublin (É uma província, aqui é cheio disso, as vilas próximas às grandes cidades são County + o nome da cidade grande). Aluguei um quarto por um ótimo preço e minha casa agora é há 100 metros do mar, entre pedras e penhascos eu tenho uma das belezas maissingulares dessa ilha. Uma graça! Uma praia que o caminho até o mar é feito por pedras e abismos e não por areia. O mar daqui é terrivelmente gelado, quase perdi meu pé (congelado).Achei um quarto pra alugar aqui, numa casa com 4 pessoas (dois músicos). Meu quarto, um refúgio numa ilha que banhada por um oceano às vezes se faz de abismo-solidão.
Esse é o coelho do vizinho que vem comer alface todo dia
Morando sozinha
Fui no mercado com a minha lista de coisas e uma mochila (porque aqui eles não dão sacola no mercado e da primeira vez eu voltei com tudo na mão, o pão caindo no chão, desodorante, etc...) então dessa vez fui fazer mochilão no mercado. Uma coisa leva a outra. Tava na lista 'pão' (poderia significar só isso mas 'pão' significa mais do que essa simples palavra)
Pão: Você vai precisar de algo pra passar no pão e de um instrumento pra passar isso, e de outra coisa pra lavar esse instrumento, e mais uma coisa pra secar.
Pão: Queijo, faca, detergente, esponja, pano de prato. E obviamente, pão.
Comprei ferro de passar, sabão, amaciante, copos, carne (carne aqui vale ouro), comprei o básico da sobrevivência. Fiquei com medo de dar uma fortuna, mas a compra pra um mês deu 88 euros mas eu comprei TUDO que eu precisava pra comer e cozinhar (objetos), quer dizer eu achei que tinha comprado tudo.
Voltei pra casa quase caindo pra trás feito tartaruga, por conta do peso da mochila. E ainda tive que levar umas coisas na mão. Caiu tudo no chão, um cara parou e pegou tudo pra mim.
Comprei o ferro, a roupa tinha acabado de lavar então era só estender. AHÁ! Cadê o varal? Eu não tenho um varal, esqueci. Pendurei tudo nos móveis. liguei a calefação e rapidinho a roupa tava seca. Bora passar com o ferro e a...eu não tenho uma tábua. Meus dias foram cheios de afazeres (lavar, passar, limpar, cozinhar), aqui é mais barato lavar roupa depois das 23hs ou domingo o dia todo. E como anoitece tarde, só umas 21:30hs, tá tranquilo e eu estou bem acordada esse horário. Mas eu consegui e consigo aproveitar as coisas por aqui também.
Segunda-feira quando eu levantei e fui pra cozinha, o furacão 2000 tinha passado por lá, deixou milhares de pratos,copos, talheres e panelas sujas e espalhadas. Não tinha panela, nem prato e nem talher limpo... o chão tava empoeirado, da casa toda... eu já comecei a ficar desesperada por não saber por onde começar. Limpei a casa menos a louça porque aí a coisa é pesada. Existe uma ação genuína chamada 'sujou, lavou'. Não porque eu tenho mania de limpeza mas porque se é uma casa compartilhada tem que existir um cuidado com o outro, do tipo 'não dá pra deixar todos os pratos e panelas sujas', se você vai lavar sua louça depois aí é problemas seu. Achei falta de consideração. Eles chegaram de tarde e eu estava indo pro mercado porque o detergente tinha acabado e o saco de lixo também. Comprei pratos, panela e garfos. Melhor assim porque eu não precisaria contar com a louça suja. Eu quis falar com eles mas mal nos encontramos e não deu tempo.
No dia seguinte tava tudo limpo na cozinha e de tarde um deles veio se desculpar e conversamos de boíssima. Tenho sorte de sermos todos muito fáceis de lidar então a gente vai se entendendo.
Jane
Ela o Derick (marido) vieram me buscar aqui e fomos pra Wicklow, a cidade vizinha, subir uma 'montanha' (que eles chamam de 'pão-de-açúcar' mas não chega nem na metade de altura) pra vermos a chuva de meteoros. Acabamos que ão vimos porque a Lua estava gigante e muito brilhante e o céu ficou muito claro. Mas a vista foi linda e o sul da Irlanda parece que vai ficando cada vez mais absurdo.
Sabe, me incomodava o fato de não ter um lugar, de não poder desfazer minhas malas, um endereço, parecia que eu não tinha pra onde ir. Eu me sinto mundana e agora mais do que nunca mas acho que ter um lugar pra chamar de casa é sempre bom, é um lugar pra ter pra onde voltar no fim do dia, uma proteção e uma independência também, eu cheguei aqui só com o meu corpo como historia, como um resultado de um passado e matéria de um futuro. Só eu, ninguém aqui sabe quem são meus amigos, o que eu fiz e minhas histórias malucas.Um idioma que eu me viro muito bem mas ainda não sou Ingrid. Meu corpo tá sendo uma essência, meus olhos ainda são carregados e marejados de vida e eu tô achando incrível tudo isso, é uma angústia por não saber o que vem pela frente, o indeterminado (mesmo tendo muito claro pra mim o que eu quero daqui e o que fazer com isso).
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