Thursday, August 14, 2014

Morar sozinha, Ligações, Chuva de meteoros no pão-de-açúcar

Antes de mais nada, agora o Maurice tem um intagram, onde postaremos fotos dele pelo mudo afora.
http://instagram.com/mauricenasoropa


Hoje faz uma semana que me mudei do centro pra Sandycove, County Dublin. Aqui é como se fosse um anexo de Dublin (É uma província, aqui é cheio disso, as vilas próximas às grandes cidades são County + o nome da cidade grande). Aluguei um quarto por um ótimo preço e minha casa agora é há 100 metros do mar, entre pedras e penhascos eu tenho uma das belezas maissingulares dessa ilha. Uma graça! Uma praia que o caminho até o mar é feito por pedras e abismos e não por areia. O mar daqui é terrivelmente gelado, quase perdi meu pé (congelado).Achei um quarto pra alugar aqui, numa casa com 4 pessoas (dois músicos). Meu quarto, um refúgio numa ilha que banhada por um oceano às vezes se faz de abismo-solidão.

Esse é o coelho do vizinho que vem comer alface todo dia










Morando sozinha
Fui no mercado com a minha lista de coisas e uma mochila (porque aqui eles não dão sacola no mercado e da primeira vez eu voltei com tudo na mão, o pão caindo no chão, desodorante, etc...) então dessa vez fui fazer mochilão no mercado. Uma coisa leva a outra. Tava na lista 'pão' (poderia significar só isso mas 'pão' significa mais do que essa simples palavra)

Pão: Você vai precisar de algo pra passar no pão e de um instrumento pra passar isso, e de outra coisa pra lavar esse instrumento, e mais uma coisa pra secar.

Pão: Queijo, faca, detergente, esponja, pano de prato. E obviamente, pão.

Comprei ferro de passar, sabão, amaciante, copos, carne (carne aqui vale ouro), comprei o básico da sobrevivência. Fiquei com medo de dar uma fortuna, mas a compra pra um mês deu 88 euros mas eu comprei TUDO que eu precisava pra comer e cozinhar (objetos), quer dizer eu achei que tinha comprado tudo.
Voltei pra casa quase caindo pra trás feito tartaruga, por conta do peso da mochila. E ainda tive que levar umas coisas na mão. Caiu tudo no chão, um cara parou e pegou tudo pra mim.

Comprei o ferro, a roupa tinha acabado de lavar então era só estender. AHÁ! Cadê o varal? Eu não tenho um varal, esqueci. Pendurei tudo nos móveis. liguei a calefação e rapidinho a roupa tava seca. Bora passar com o ferro e a...eu não tenho uma tábua. Meus dias foram cheios de afazeres (lavar, passar, limpar, cozinhar), aqui é mais barato lavar roupa depois das 23hs ou domingo o dia todo. E como anoitece tarde, só umas 21:30hs, tá tranquilo e eu estou bem acordada esse horário. Mas eu consegui e consigo aproveitar as coisas por aqui também.

Segunda-feira quando eu levantei e fui pra cozinha, o furacão 2000 tinha passado por lá, deixou milhares de pratos,copos, talheres e panelas sujas e espalhadas. Não tinha panela, nem prato e nem talher limpo... o chão tava empoeirado, da casa toda... eu já comecei a ficar desesperada por não saber por onde começar. Limpei a casa menos a louça porque aí a coisa é pesada. Existe uma ação genuína chamada 'sujou, lavou'. Não porque eu tenho mania de limpeza mas porque se é uma casa compartilhada tem que existir um cuidado com o outro, do tipo 'não dá pra deixar todos os pratos e panelas sujas', se você vai lavar sua louça depois aí é problemas seu. Achei falta de consideração. Eles chegaram de tarde e eu estava indo pro mercado porque o detergente tinha acabado e o saco de lixo também. Comprei pratos, panela e garfos. Melhor assim porque eu não precisaria contar com a louça suja. Eu quis falar com eles mas mal nos encontramos e não deu tempo.
No dia seguinte tava tudo limpo na cozinha e de tarde um deles veio se desculpar e conversamos de boíssima. Tenho sorte de sermos todos muito fáceis de lidar então a gente vai se entendendo.



Liguei pra minha mãe, depois de uma semana sem nos falarmos e quando ela atendeu começou a chorar de soluçar, levei um susto e fiquei emocionada...Ela dizia que achava que eu tinha esquecido dela, essas coisas a gente nunca esquece mãe. Expliquei que não dá pra ligar todo dia mas vou ligando na medida do possível, porque minha mãe não tem facebook nem qualquer outro meio de falar comigo se não por telefone. Então guenta coração da dona Maria do outro lado do oceano. Mas sua filha tá bem dona Maria, felizona e muito ocupada com os afazeres domésticos e esse mar e essa lua dona do mundo.



Jane
Ela o Derick (marido) vieram me buscar aqui e fomos pra Wicklow, a cidade vizinha, subir uma 'montanha' (que eles chamam de 'pão-de-açúcar' mas não chega nem na metade de altura) pra vermos a chuva de meteoros. Acabamos que ão vimos porque a Lua estava gigante e muito brilhante e o céu ficou muito claro. Mas a vista foi linda e o sul da Irlanda parece que vai ficando cada vez mais absurdo.





Sabe, me incomodava o fato de não ter um lugar, de não poder desfazer minhas malas, um endereço, parecia que eu não tinha pra onde ir. Eu me sinto mundana e agora mais do que nunca mas acho que ter um lugar pra chamar de casa é sempre bom, é um lugar pra ter pra onde voltar no fim do dia, uma proteção e uma independência também, eu cheguei aqui só com o meu corpo como historia, como um resultado de um passado e matéria de um futuro. Só eu, ninguém aqui sabe quem são meus amigos, o que eu fiz e minhas histórias malucas.Um idioma que eu me viro muito bem mas ainda não sou Ingrid. Meu corpo tá sendo uma essência, meus olhos ainda são carregados e marejados de vida e eu tô achando incrível tudo isso, é uma angústia por não saber o que vem pela frente, o indeterminado (mesmo tendo muito claro pra mim o que eu quero daqui e o que fazer com isso).

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