Friday, August 8, 2014

Rainha, prepara o chá que eu tô chegando

São Paulo, 28 de julho de 2014
Dentro do carro eu tentava empurrar uns sushis e um suco de laranja. A cidade quase parada. Faz frio e eu estou com um cachecol, calça jeans e uma blusa de frio mostarda, levo uma mochila no colo. São Paulo acinzentada passa pela janela, chora terra da garoa. Meu irmão segura minha irmão, minha mãe calada. Minha irmã não para de falar. Minhas amigas do meu lado e eu só me imaginando dentro do avião.

Aeroporto
Faço o check-in e despacho as malas, agora o bicho pega. Penso 'minhas malas já estão a caminho, a próxima sou eu'. Na minha cabeça passava repetidamente 'estou indo embora' 'Só vou pisar em terra novamente na Europa', cruzar o oceano. E U V O U C R U Z A R O O C E A N O. Aquele mapa-mundi dos livros, eu vou viajar por ele, pisar nessas terras. Meu portão fecha abre às 15:25 e fecha às 16hs. Meu vôo sai às 16:15hs. Encontro de repente meus amigos vindo com plaquinhas na mão e um presente, não acredito! Vocês são do caralho, não consigo entender que isso é uma despedida.
15:15hs. Preciso começar a me despedir. 'Se despedir, você sabe o que tem que fazer, é isso.' Cada abraço me roubou um pouco de calma, começo a ficar nervosa e ansiosa e feliz. Mãe, a parte de lá do cordão umbilical, eu sussurro com a voz cortada e o coração na mão 'sua filha não poderia estar mias feliz que agora, eu vou ficar bem, sei me virar. Te amo'. Viro as costas. Eu tive 15 segundos de passagem pelo corredor até a catraca, onde eu não veria mais nenhum deles, só eu e eu mesma agora. Foram 15 segundos que toda a ficha caiu. Eu lá, em movimento indo pra longe deles. Eles, parados acenando tchau. 'É verdade'. 









Agora sozinha me vem um sentimento de liberdade, um grito ensurdecedor no peito. eu começo a pular e gritar no corredor em direção ao portão de embarque... fodidamente solta e feliz no mundo, uma sensação de liberdade e de angústia. 

Por cima das nuvens. O comissário de bordo me pergunta o que eu quero beber (english) e eu digo 'just water' (uarã) e ele repete com o brilhantismo britânico 'J U S T W A T E R' (uátá) '-' (tanto faz querido, esse líquido transparente que hidrata e evita infecção urinária). Minhas próximas bebidas foram vinho, de ótima escolha, começo a ficar mais sonolenta e o sol vai se pondo, me arrisco a dormir. Sonho meu achar que eu ia conseguir dormir, mesmo de noite e mesmo depois de um vinho. Que Baco esteja comigo aonde eu for! Faço amizade com o Rafa, passageiro do meu lado, indo pra New Castle mas irá passar uma semana em Londres, assim como eu. O Rafa faz química na USP e está indo passar 3 meses em New Castle.

Eu fui pela British Airlines, muito bom o atendimento. Não tem muito espaço entre as poltronas mas isso depende da classe que você vai. Eu fui de econômica (porque a vida não são rosas), tem uma telinha que você pode escolher músicas (só música x na vida, muito horrível o repertório e infelizmente não dava pra colocar pen drive e meu celular quase morrendo tava desligado para economizar bateria) e filmes (ótimas opções, uma delas era 'Hotel Budapeste', que no Brasil está em cartaz. E também dava pra assistir séries como MOM ou The Big Bang Theory e acompanhar o trajeto do avião. Foi um total de 11h05min de vôo sem atraso (+/- 4hs de vôo sobre o continente e 7h no oceano, breu), com bastante turbulência, tivemos uma bebida de entrada, jantar (chicken or pasta) e depois o café da manhã. Eu guardei meu pãozinho com manteiga que eles serviram no jantar porque vinha muita coisa e como eu sabia que ia demorar pra eles servirem outra refeição achei melhor prevenir.

Leio minhas cartas e abro meus presentes, Pablo Neruda, presente de uma amiga querida do coração, me guia nesse náufrago de nuvens, vinhos e inglês no qual meu coração se perde até chegar em Londres. Na primeira página de 'Noites Brancas' acho uma escrita de um amigo especial que conta dos meus olhos, esses ficarão perdidos mas as noites brancas virão pra guiá-los. Tenho comigo amuletos e galharufas, estou bem acompanhada.

Aeroporto de Heathrow - London - UK
C H E G U E I.

Agora me passa pela cabeça a imagem do André me esperando no fim dese corredor. Como será que ele ta? Como vai ser isso? Estamos em Londres? Parece que foi ontem que choramos ao nos despedirmos. Não, não era o André me esperando no final do corredor mas a fila da imigração, que demorou mais de 1h. Meu coração na mão, tava tudo certo, eu tinha tudo que eu precisava pra passar por aquela fila mas mesmo assim vai que alguém põe fogo sem querer na minha mochila e queima meus papéis. 

Passada a imigração.
Peguei as malas, vou no banheiro chorar um pouquinho e respirar, encontro o Rafa e vamos pra saída daquela loucura, daquele lugar de idas e vindas, encontros e desencontros. Saio e tem uma fila de gente atrás de uma fita preta com cartazes e olhos buscando outros olhos familiares. Não encontro o André. A fila de pessoas está chegando no final e eu ouço cortando o espaço de silêncio entre uma pessoa e outra, um rasgo no tempo, 'AMOR!'. E eu encontro o par de olhos castanhos que eu mais precisava nesse momento, como um 'tô te esperando!'

A M O R!
Como pode um momento pesado de sentimento e história explodir em 4 letras?! O mundo se enxugou, cortaram as pernas desse globo.
Finalmente, Londres, finalmente nós, fim da distância.
I N G L A T E R R A, terra do Shakespeare. Estou em casa.

No comments:

Post a Comment